30 de junho de 2010

O custo do benefício: equipado ou básico?

Descubra quanto o desempenho de seu veículo é alterado com a adição de opcionais




Veículos 1.0 são a alternativa mais comum para quem deseja se tornar independente do transporte público e partir para o mundo do carro particular. Mas o consumidor atual é exigente. Por mais que esteja disposto a investir capital em seu primeiro automóvel, faz questão que ele seja econômico – o que justifica a escolha de um modelo com propulsor de baixa cilindrada -, e, ao mesmo tempo, ofereça alguns "luxos", como ar-condicionado e direção hidráulica, além de tecnologia e conforto.

Perfeito, correto? Em princípio, sim. Mas o fato é que originalmente os propulsores 1.0 foram desenvolvidos para transportar uma carroceria leve – leia-se sem muitos equipamentos – para que seus ocupantes se locomovam sem gastar muito, característica que é um argumento nesta categoria.

Equipar um veículo com opcionais gera incontestáveis melhorias para o conforto, mas também tem seu lado negativo: em tese, pode sacrificar o desempenho e o consumo de combustível. Para descobrimos na prática se a teoria é válida, avaliamos dois Volkswagen Gol, sendo um básico (R$ 30.880), na cor vermelha, que pesa 934 kg, e o outro, munido de toda a lista de opcionais da VW (R$ 44.240), prata, registrando 1.024 kg na balança. De acordo com a marca, os dois contam com 76 cavalos de potência e 10,6 kgfm de torque quando abastecidos com álcool. Nosso objetivo foi apenas um: testá-los e verificar se encontraríamos alguma diferença de desempenho entre os dois.

Além de aumentar o peso do automóvel, componentes como direção hidráulica e ar-condicionado também são responsáveis por diminuir a potência do motor, uma vez que o aumento no número de correias ligadas ao bloco sacrifica sua eficiência. Quanto mais itens eletrônicos um modelo possuir, maior também será a demanda de energia elétrica e, consequentemente, mais potente terá que ser o alternador (componente que gera energia). Esta peça de maior capacidade também demanda maior esforço do propulsor para girá-la, o que consome mais potência e combustível do sistema. Ao menos em tese, portanto, um veiculo completo deverá consumir mais combustível e apresentar desempenho inferior que sua configuração básica. Será que isso se comprovou na pista de testes? Acompanhe os resultados.


Consumo


O primeiro indício da discrepância de rendimento entre os modelos foi encontrado na hora de reabastecer. Trafegando em circunstâncias iguais, o Gol completo registrou consumo médio de 7,5 km/l de etanol em ciclo urbano, enquanto a configuração básica do hatch foi mais contida com o combustível e percorreu 8,1 km/l. Uma diferença de 7,4% a favor do Gol popular. Já em rodovias, a diferença na sede de álcool das duas versões diminuiu para 2,48%: enquanto o “pé de boi” rodou 12,4 km com um litro de etanol, o completo percorreu 12,1 km com a mesma quantidade de combustível.


Averiguada a diferença que afeta o bolso do motorista, partimos para a pista de testes afim de descobrir se existem divergências de desempenho entre as versões.

Configurações distintas, desempenhos diferentes:

Os dois Gol arrancaram emparelhados no campo de provas e, antes mesmo de a segunda marcha ser selecionada, surgiu uma desigualdade: o veículo mais leve ganhou a frente e começou a se distanciar progressivamente da versão completa. A 2ª marcha foi selecionada e na sequência a 3ª, quando o modelo de R$ 30.880 já se encontra a mais de 10 metros na frente de seu irmão luxuoso. Em 14s7, após percorrer 262,73 metros, os 100 km/h são atingidos pelo automóvel vermelho em nossas fotos. Exatamente 1s9 e 36,73 metros depois, o hatch na cor prata atinge a velocidade em questão.

Uma avaliação após a outra tornou inquestionável a discrepância entre o rendimento dos veículos, mesmo o modelo completo estando com o ar-condicionado desligado durante toda a bateria de testes. Além da melhor aceleração e consumo de combustível, o Gol vermelho demonstrou mais disposição para recuperar velocidade, como na prova de retomada de 60 km/h a 120 km/h em 4ª marcha, situação em que a versão básica necessitou de 23,4s para retomar o fôlego, 3s0 a menos que o completo. O comportamento na pista de testes refletiu em números reais o que pôde ser averiguado no dia a dia com os veículos nas ruas. Com menor desempenho, o modelo completo necessitou de maior pressão no pedal do acelerador e giro mais alto do motor para oferecer agilidade em ultrapassagens, se comparado ao modelo básico.

Em um teste de aceleração de 0 a 120 km/h, por exemplo, além de ter necessitado de 26s0 para atingir a velocidade, o Gol prata rodou 588,1 metros antes de atingir a meta, enquanto o básico necessitou de 3s0 e 71 metros a menos.

Porém, o veículo equipado com toda a lista de opcionais da VW deu a volta por cima e esbanjou segurança no teste de frenagem. Com o pacote que inclui freios ABS e duplo airbag, o modelo necessitou de 58,1 metros para estancar vindo de 120 km/h, enquanto o Gol básico percorreu 75,5 metros antes de atingir a imobilidade, no mesmo teste. Além de utilizar um espaço 23,5% maior para frear, o veículo básico apresenta maior risco de perda do controle em frenagens de emergência, uma vez que as rodas podem se travar e retirá-lo de sua trajetória, dependendo da reação do motorista ou das condições do pavimento. Em piso molhado, a discrepância seria ainda maior.

Vale ou não vale?


O consumidor deve aproveitar seu dinheiro e comprar um veículo cujo motor e opcionais se atendam seus anseios e condições. Nada mais justo, afinal, o capital foi acumulado com o suor que escorreu de seu rosto. É necessário avaliar se vale a pena abrir mão do conforto que uma direção hidráulica e ar-condicionado promovem para rodar 0,6 km a mais com um litro de combustível na cidade e 0,3 km em rodovia. Faz sentido? Cabe a cada um responder por si.

Mas é importante ter em mente que especialmente em motores 1.0, cujo rendimento é mais limitado, a adição de componentes compromete o desempenho do automóvel, que demandará mais espaço e cuidado na hora de realizar ultrapassagens, especialmente em estradas. A diferença na distância percorrida e no tempo necessário para acelerar, encontradas nos testes entre as versões, pode ser a necessária para evitar um acidente.

O sistema de freios ABS provou sua utilidade no resultado do teste de frenagem. Se dissolvido em um financiamento de 10% de entrada e 48 parcelas, o componente, que pode evitar desde pequenas dores de cabeça a até uma tragédia, custará apenas R$ 130 a mais em cada mensalidade se comparado um gol básico, que sai por R$ 851,21 mensais no mesmo programa. No caso do Gol, o valor adicional também inclui direção hidráulica e abertura interna do porta-malas, uma vez que estes componentes estão atrelados nos pacotes de opcionais. De todos os sistemas que um automóvel pode receber, este, comprovadamente, é um dos mais merecedores de seu investimento.

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